Fonte: Diário da Manhã

Durante muito tempo, a palavra cirrose, no conhecimento popular, foi exclusivamente ligada ao uso contínuo e abusivo do álcool, que lesava irreversivelmente o fígado, ou seja, não tem cura. Apesar disso, existem várias outras formas de adquirir esta doença, como por exemplo, as hepatites B e C (confira outras causas na tabela). No Brasil são notificados, em média, 13 mil óbitos por ano devido à moléstia, além de ocupar a 8° causa de mortes do mundo.

Cirrose é uma doença crônica do fígado que se caracteriza por fibrose e formação de nódulos que bloqueiam a circulação sanguínea. Pode ser causada por infecções ou inflamação crônica dessa glândula, explica o médico Xavier Dantas, especialista em Gastroenterologia. A doença faz com que o fígado produza tecido de cicatrização no lugar das células saudáveis que morrem.

Com isso, o fígado deixa de desempenhar suas funções normais como produzir bile (um agente emulsificador de gorduras), auxiliar na manutenção dos níveis normais de açúcar no sangue, produzir proteínas, metabolizar o colesterol, o álcool e alguns medicamentos, entre outras.

O tipo mais comum da doença é a cirrose hepática. A única possibilidade de cura para cirrose é o transplante de fígado, medida que se mostra bastante eficaz, tendo uma taxa de sobrevida superior a 90% dos casos de transplantados. Atualmente existem cerca de oito mil pacientes na fila de espera para realizar transplante de fígado no Brasil, estimando-se que cerca de 50% destes pacientes tenham essa necessidade devido à evolução das hepatites virais B e C.

Segundo o especialista em Gastroenterologia, a maior causa da cirrose hepática, no Brasil, é devido o consumo excessivo do álcool. Segundo pesquisadores, de 50 a 90% dos cirróticos são alcoólatras. O fígado é responsável pelo metabolismo do álcool, que se consumido em doses excessivas, destrói os tecidos vitais e prejudica o funcionamento do órgão. Por se tratar de um processo patológico irreversível, o diagnóstico precoce e o tratamento imediato podem adiar ou mesmo evitar uma série de complicações, explica Dantas.

“A cirrose hepática tem a característica de ser uma doença crônica, subclínica, ou seja, o paciente vive bem e trabalha normal. Mas muitas vezes o diagnóstico é dado já por um exame complementar de imagem, como por exemplo, ultrassom, onde o paciente faz o teste para investigar uma causa de dor abdominal. E quando o médico faz a leitura do exame se depara com uma fibrose no fígado, já alterado”, salienta o médico.

A cirrose é mais comum em homens acima dos 45 anos, mas pode acometer também as mulheres. No entanto, conforme o gastroenterologista Dantas, dependendo da causa, a doença hepática pode ser apresentada até na infância. “Existem doenças genéticas, como a deficiência de alfa 1 antitripsina, doença metabólica do cobre, doença de Wilson, hemocromatose e hepatites virais da infância de forma crônica, principalmente, B e C. São formas de evolução precoce da cirrose hepática”, explica.

Álcool

Segundo estudos sobre o assunto, o uso abusivo de álcool fez crescer o número de portadores da doença nos últimos anos. Especialistas apontam que a quantidade de álcool para provocar uma cirrose varia de caso a caso. Geralmente são quantidades que as pessoas podem achar pequenas, como quatro ou cinco doses de bebidas destiladas por dia, durante dez anos.

Foto: Divulgação

O álcool inflama e destrói gradualmente as células do fígado que, ao longo do tempo, passa a ficar tomado por pequenas cicatrizes, e tem seu funcionamento prejudicado. Estima-se que em torno de 15% dos alcoólatras cheguem a esta etapa em um período entre dez e 15 anos de dependência. As complicações decorrentes da doença podem ocorrer lentamente e desencadear o acúmulo de água na barriga, inchaço nas pernas, confusão mental, e até o desenvolvimento de câncer no fígado e hemorragias digestivas, segundo estudos.

Outra preocupação dos especialistas são a combinação álcool e juventude, que tem consumido cada vez mais precocentemente bebidas alcoólicas. Em entrevista ao New York Times, o médico Stephen Stewart, diretor do Centro de Doenças Hepáticas do Hospital Mater, em Dublin, disse que a cirrose hepática está atingindo proporções epidêmicas, particularmente entre os mais jovens, justamente a faixa etária que mais tende a frequentar bares.

Saiba mais

Os sintomas da cirrose podem ser:

  • Pele e olhos amarelados;
  • Exagero na coloração da palma das mãos;
  • Atrofia testicular, perda de pelo, ou desenvolvimento de mamas nos homens;
  • Unhas esbranquiçadas;
  • Mau hálito característico da doença hepática;
  • Veias proeminentes na região abdominal;
  • Aumento do baço;
  • Inchaço abdominal;
  • Pode haver hérnia abdominal.

As principais causas da cirrose podem ser:

  • Consumo excessivo de bebidas alcoólicas;
  • Consumo excessivo de medicamentos;
  • Hepatite B;
  • Hepatite C;
  • Hepatite autoimune;
  • Hepatite alcoólica;
  • Hemocromatose;
  • Doença de Wilson;
  • Cirrose biliar primária;
  • Colangite esclerosante primária.

As complicações mais graves da cirrose incluem:

  • Câncer de fígado;
  • Hemorragia varicosa;
  • Ascite;
  • Peritonite bacteriana espontânea;
  • Encefalopatia hepática;
  • Síndrome hepatorrenal;
  • Hepatocarcinoma.

Recomendações

  • Evite o uso abusivo de álcool;
  • Utilize preservativo nas relações sexuais e seringas descartáveis para evitar a contaminação pelos vírus das hepatites B e C;
  • Não descuide do tratamento para as hepatites B e C crônicas a fim de que não provoquem cirrose;
  • Procure vacinar-se contra hepatite B para evitar o risco de contrair essa doença.

Fonte: Ministério da Saúde

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